Quem sou eu

Minha foto
Barretos, São Paulo, Brazil
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Sociologia e graduado em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual Paulista. Professor da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos "Dr. Paulo Prata".

sábado, 17 de dezembro de 2011

Mulher matando cachorro Yorkshire na pancada 14/12/2011



      Ontem infelizmente tomei ciência deste vídeo. Confesso que não consegui assisti-lo inteiro. Muito forte, muito bárbaro e cruel. Sinto uma tristeza enorme por este fato e espero que a justiça de alguma forma se manifeste. Tenho lido vários comentários na Internet de indignação a respeito do vídeo. Porém, gostaria de propor uma reflexão um pouco menos superficial. 
      Compactuo com a indignação geral, só não entendo porque as pessoas estão tão revoltadas com esse tipo de crime. Por que não foi velado? Por que está sendo divulgado? Por que revela uma realidade nua e crua de um poder do "mais forte" sobre o "mais fraco"?  Enfim, por quê? Pois todos os dias milhares de animais (vacas, porcos, galinhas, coelhos, carneiros entre outros) morrem com a mesma crueldade e dor e são celebrados nos pratos como comida.
      Há várias justificativas para amenizar essa barbaridade. Naturalizam e terciarizam a morte desses animais como sendo cultural, como "lei da sobrevivência". Se confortam por não participarem do processo de derramamento de sangue e gritos de dor. Afinal, os embutidos, as embalagens à vácuo, as partes dos animais embalados em plásticos coloridos não fazem menção a tanta crueldade.
      Assim, a indignação não vem à tona, a morte consentida é celebrada por muitos em "churrasquinhos" onde se comem os "mais fracos" e se julgam atitudes como esta da morte de animais indefesos. Contraditório não?

sábado, 10 de dezembro de 2011

Natal sem dor!


Estamos às vésperas de vivenciarmos as festas de fim de ano, onde laços de caridade, fraternidade e amor são renovados. Façamos nossas renovações sem dor, sangue e sacrifício alheio. Ainda dá tempo. Pense, reflita e faça diferente. Seja vegetariano pelos animais.
                                                                                                      Boas Festas! 

sábado, 3 de dezembro de 2011

Faculdade Dr. Paulo Prata

A Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata inicia seus cursos de Medicina e Biomedicina em fevereiro de 2012, oferecendo um ensino diferenciado baseado em metodologias ativas de ensino-aprendizagem, que tem mostrado bons resultados nas principais instituições de ensino na área da saúde no Brasil e no mundo. O período de inscrições começa na próxima quinta-feira, 1º de dezembro, e vai até o dia 30. O Vestibular será realizado no dia 8 de janeiro.
Serão 60 vagas para o curso de Biomedicina e 30 para Medicina, ambos semestrais. Com um corpo docente altamente titulado (90% dos professores são doutores) a instituição disponibiliza ainda uma infraestrutura de laboratórios de apoio, laboratórios de práticas profissionais, salas de aula e biblioteca de última geração para receber os alunos.
Segundo o diretor Acadêmico da faculdade, Prof. Dr. Carlos Haroldo Piancastelli, os cursos terão uma metodologia de ensino aprendizagem, orientada para a formação de profissionais competentes, humanistas e éticos. “Não vamos trabalhar com disciplinas, mas com um ensino fortemente centrado em uma visão crítica e reflexiva por parte dos estudantes. Entre os nossos diferenciais, posso destacar que a metodologia terá um ensino voltado para o aluno, que será estimulado, constantemente, ao aprendizado de forma integrada e em contato com o sistema de saúde”, explica.
Além de possibilitar aos futuros médicos e biomédicos uma vivência do sistema de saúde, o professor afirma que diversos projetos de extensão e iniciação científica serão estimulados durante a formação. “Esta metodologia que estamos propondo proporciona ao aluno oportunidades de contato com diversos cenários de prática profissional, de forma a possibilitar a formação de um profissional que seja capaz de trabalhar em grupo, encontrar soluções e conhecer a comunidade em que está inserido”.
Para a coordenadora do curso de Biomedicina, Prof.ª Dr.ª Zuleica Caulada Benedetti, entre as metas do curso está a formação de profissionais preparados para atender às necessidades atuais do mercado. “Estamos desenvolvendo um curso que proporcionará ao futuro Biomédico o contato com diversas áreas de atuação, permitindo uma formação generalista que vai além das análises clínicas”.
Parcerias e convênios
A Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata, tem como parceira a Universidade do Minho, de Portugal, renomada instituição europeia que propõe um projeto de graduação diferenciado, estimulando a investigação e o espírito científico dos estudantes. Esta filosofia contribuiu para a formulação da proposta pedagógica da faculdade.
Outras instituições parceiras são: Fundação Pio XII, Santa Casa, Secretária Municipal de Saúde, Diretoria Regional de Saúde e os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) de Barretos.
Serviço
Período de Inscrição: 1 a 30 de dezembro de 2011, pelo site - Data do vestibular: 8 de janeiro de 2012.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Progresso?!

"Na vida, a contradição não é mera manifestação de um defeito: é uma realidade que não se pode suprimir" (Leandro Konder)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Molho pardo"

Acabo de ler um conto de Lispector "Uma história de tanto amor". Como sempre Clarice me deixa sem ar. Tenho medo de entender o conto. A simplicidade é dura, profunda e dolorida. A analogia do amor transcende, o cuidar altruísta e ingenuo da menina pela Petronilha, Pedrina e Eponina. "Uma galinha é sozinha no mundo", "É uma pena", "E quando chegou a vez de Eponina ser comida, a menina não apenas soube como achou que era o destino fatal de quem nascia galinha". A tristeza do amor puro comungou a carne na carne. A eternidade se fez efêmera. O amor sempre é dor.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Decanos

        Este ano faz uma década que ingressamos no curso de Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista - Campus de Araraquara. Olhos assustados, um mundo novo para desbravar. Teorias construídas pela manhã e desconstruídas a tarde. Angústia. Novidades. Realidades diferentes, saudade do que éramos e nunca mais voltaríamos a ser, ilhados rebelávamos o estar no mundo. Livros, livros, livros e a ânsia de dar conta de tudo. Horas diárias na biblioteca. Escrita tímida. Andávamos em grupos, confraternizávamos com reuniões nos fins de semana. Riamos muito. Enfim, crescíamos...
      Já se passaram 10 anos do início da nossa formação acadêmica, bem como de construção de laços de amizade e companheirismo e para tanto estamos organizando uma festa para comemorarmos o nosso reencontro. Está sendo programada para dezembro...votos para que dê tudo certo.  

domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro de 2011

"(...) o extremismo violento deve ser combatido em todas as suas formas, inclusive por meio da reconciliação entre o ocidente e o mundo árabe, pela eliminação do armamentismo nuclear, pela afirmação da democracia, pelo respeito à liberdade religiosa e aos direitos humanos e da mulher, pela promoção do desenvolvimento econômico e a criação de oportunidades para todos em um mundo de paz e cooperação."

Dilma Rousseff
(Em carta ao presidente Barack Obama (EUA) em relação aos dez anos dos atentados do 11 de setembro)

Assim com a nossa presidenta partilhou com o discurso de Obama (a locução e interlocução é a mesma), também compartilho em relação a contenção de todo e qualquer "extremismo", bem como primo para a "reconciliação" entre o Ocidente e o mundo Árabe. Porém, longe de um "assim seja", questiono se realmente os Estados Unidos foram vítimas, como a mídia vem propagando. Não gosto da análise behaviorista, mas questiono se toda causa não tem uma consequência. A saída realmente não deveria ser pela violência (física), mas será que a violência de soberania, de detenção da verdade (econômica), a violência religiosa e moral, de civilidade e democracia  não corroboraram para o resultado do atentado? A política de arrogância não tem consequência?

domingo, 4 de setembro de 2011

V(ida)

Só sou quando querem que eu seja?

                                                                          Marco Monteiro

sábado, 27 de agosto de 2011

Centenário Michels

Robert Michels filósofo ou cientista político? A fronteira entre a filosofia e a ciência se estreita quando pensamos no autor da "Sociologia dos Partidos Políticos", cuja obra foi comemorada no último dia 24 de agosto na Universidade Federal de São Carlos. Com o conceito da "lei de ferro das oligarquias", ou a ideia de "governo em mímiatura" trouxe a tona a problemática dos Partidos de Massas, bem como a ideia de democracia  tornar-se oliguarquia. Ensaio datado mas essêncial para pensarmos o "escolher", o "delegar" e o "abandonar". Eis o processo da democracia deliberativa.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Saudemos a Cultura Popular!


Foto by Marco Monteiro



"No dia 22 de agosto de 1846, em Londres, foi criada pelo arqueólogo inglês William John Thoms, que a propôs à revista The Atheneum, para designar os registros dos cantos, das narrativas, dos costumes e usos dos tempos antigos. Thoms escolheu duas velhas raízes saxônicas: Folk, que significa povo, e Lore, sabe, formando, assim, Folk-Lore, sabedoria do povo. Com o decorrer do tempo, as duas palavras foram grafadas sem o hífen, formando uma só: Folklore, como foi usada no Brasil até que a reforma ortográfica suprimiu a letra K, substituída, no caso, pela letra C, derivando a forma Folclore." (www.folcloreolimpia.com.br)


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pessoa, sempre Pessoa!

"Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambas tinham razão. Não era que um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via com critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade"

 (Fernando Pessoa)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pirilampo


Sou pirilampo.
Singelo, frágil e pequeno procuro ser luz. 
Esforço para iluminar o meu redor.
Apareço somente frente a escuridão do mundo.
A escuridão que me agoniza também me serve como existência.
Pela alteridade, a luz não se faz sem trevas.

Marco Monteiro

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ditadura do Post

Quando tomei a decisão de criar um blog tinha a ideia de criar um canal de discussão, de desabafos, gritos, reivindicações, demostrações de carinho e afeto. Algo meu, compartilhado com as pessoas que tanto gosto. No entanto, me vejo por várias vezes, pressionado para a uma certa constância de novos posts. Essa ideia da obrigatoriedade de produção em um espaço que dele faço para estravazar sentimentos, impressões, informações etc, me faz sentir um tanto debilitado. Manuais de como conseguir novos seguidores, de como atualizar o blog para torna-lo atrativo  são constantemente a mim apresentados. Até acabei criando um gadget titulado "frase do dia" onde partilho, quase "religiosamente" alguns pensamentos, no entanto, como um bom cristão que não sou: peco. Mas também não faço dele uma obrigação. Quero a "liberdade", postar sem a preocupação de quantas pessoas irão ler ou mesmo entender o post, ou voltar a acessá-lo. Não vivo do blog, essa ferramenta existe para me "servir" e não o contrário. Não sei se outras pessoas se sentem assim frente ao "seu" espaço...Vou continuar a postar poesias, músicas, ensaios, fotografias, alegrias, desabafos e ficar enormemente satisfeito se houver comentários. A locução e a interlocução sempre será bem vinda, pois essa é a ideia central do blog que propõe, brisas quando há necessidade de brisas, ventos quando há necessidade de ventos e ventanias quando há necessidade de ventanias. 

Marco Monteiro

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Momento Adélia

Escher by Marco Monteiro

"Quando a noite vier e minh'alma ciclotímica
afundar nos desvãos da água sem porto, salva-me.
Quando a morte vier, salva-me do meu medo,
do meu frio, salva-me,
ó dura mão de Deus com seu chicote,
ó palavra de tábua me ferindo no rosto."

(Adélia Prado - De profundis)

domingo, 10 de julho de 2011

18º Festival Tanabata - Ribeirão Preto-SP


Tanabata é um festival japonês que já possui uma tradição em Ribeirão Preto. A celebração japonesa é recheada de danças, comidas típicas, oficinas e muita...muita delicadeza. Tanabata, ou Festa das Estrelas, é uma das maiores festas populares do Japão. De origem chinesa a festividade foi adaptada pelos japoneses no século XIII. A cultura está viva e em constante transformação.
Fiz pequenos vídeos, muito amador da minha parte, porém compartilho!




terça-feira, 5 de julho de 2011

II Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência Política

Nos dias 20, 21 e 22 de julho, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sediará o II Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência Política, momento importante para refletirmos, como é a proposta do mesmo, as "Novas agendas na Ciência Política Brasileira". Vale lembrar que ainda da tempo de se inscrever para participar como ouvinte. Mais informações em www.forumcienciapolitica.com.br, vamos participar!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Representações femininas

"É sempre difícil descrever um mito; ele não se deixa apanhar nem cercar, habilita as consciências sem nunca postar-se diante delas como um objeto imóvel. É, por vezes, tão fluido, tão contraditório que não se percebe, de início, a unidade: Dalila e Judite, Aspásia e Lucrécia, Pandora e Atená, a mulher é, a um tempo, Eva e Virgem Maria. É um ídolo, uma serva, a fonte da vida, uma força das trevas; é o silêncio elementar da verdade, é o artifício, tagarelice e mentira; a que cura e a que enfeitiça; é a presa do homem e sua perda; é tudo o que ele quer ter, sua negação e sua razão de ser" (Simone de Beauvoir).

Esses antagonismos construídos em torno da mulher sempre me chamou atenção. Ora perversa ora santa, ora negada ora exaltada, e assim, rotulando atribuímos valores. A própria concepção de mulher é mais uma construção social. E a igualdade é mais um clichê da liberdade?

terça-feira, 17 de maio de 2011

Chacina de animais em Ribeirão Preto



"Nós pedimos com insistência: não digam nunca: isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão.
Em que corre sangue, em que se ordena a desordem, em que o arbitrário tem
força de lei, em que a humanidade se desumaniza.
Não digam nunca:
isso é natural!"
(Brecht)


Já postei flores ("Esperança" em 08.12.11). Ingenuamente...?!

O fato de alguém não gostar de animais não lhe dá o direito de matá-los! Para os amantes de felinos, mais comedores de porcos, galinhas, vacas etc. não entendo a indignação, amam uns e comem outros! Não, realmente isso não é natural.

sábado, 14 de maio de 2011

Macabéa, sim senhor!

Sou Macabéa dominado pela alienação, simplicidade e incapacidade de me auto-conhecer. Na minha limitação tento suavizar a minha dor de existir. Como? Fugindo da realidade. Sou limitado, tolo e sonhador. Um dia me encontro só não sei se vou suportar ser eu. Ser Macabéa é querer viver, não sabendo como, vivo vagando entre migalhas, restos e sobras, "(...) com ar de se desculpar por ocupar espaço". Choro! O simples fato de "quem se indaga é incompleto" me faz sentir Macabéa.

sábado, 30 de abril de 2011

Conto? Conto.

     A sala estava vazia. No centro rosas brancas manchadas de vermelho sangue. O silêncio era assustador mas ao mesmo tempo trazia uma paz que outrora não sentia. O cheiro das flores com o sangue me fez sentir náuseas, corri até o banheiro e lá perseguindo um rastro de vida coagulada, encontrei bilhetes de amor, de despedidas, bilhetes de agradecimentos. Com as mãos trêmulas reconheci a letra, abri rapidamente o papel que trazia além de agradecimentos um perfume doce, sutil, que contrastava com as seguintes palavras: "Obrigado pai pelo seu silêncio, obrigado mãe pelo seu adeus doloroso, obrigado amor por sua falta de amor. Obrigado Deus por sua apatia e compreensão infinita que permite aos homens se deliciar de fantasias, promessas e alienações, amenizando assim a dor de cada dia." 
     Pétalas de rosas pareciam brotar por toda a parte. Confuso passei os dedos entre os cabelos e os senti molhado. Foi quando percebi que não estava sozinho. No canto do banheiro um corpo brotando vida. A beleza das flores sempre o contagiou e agora era silenciada assim como suas ideias, confusões, limitações tão importantes e valiosas. Estava lá, jogado entre livros abertos, rodeado de poesias e teorias. O fim, enfim consumado. 
     Sim, trazia no rosto uma expressão de alívio. Covardia? Não, não se limitava aos julgamentos do senso comum. Cansado, com a pele marcada de feridas a nunca mais serem cicatrizadas, segurava nas mãos um verso incompreensível para quem pouco conheceu o amor. "O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível" (Adélia Prado). Me vi, e arrependido, chorei.

Marco Monteiro

sábado, 16 de abril de 2011

Drops

Hoje acordei com saudade: dos sonhos, da crença, da esperança, do perfume, da música, da bagunça, da insegurança, da preocupação, da falta, de mim. Procurei e novamente me vi sozinho, sozinho gritei e meu grito não foi ouvido, algum dia será que ouviram? Imersos na nossa própria incapacidade de perceber o outro, machucamos mas não percebemos que machucamos. Ou machucamos e fingimos que não machucamos? A dor é minha unica certeza no momento. Queria acreditar em um Deus, acreditar nas pessoas, acreditar na vida, ser feliz mesmo que essa felicidade alienada me tirasse o senso de realidade. Preciso de uma ideologia para além dos drops de cada dia. Sou humano demais para não precisar de uma construção superior.

Ps: hoje dancei "lerê lerê" mas o riso não veio.

terça-feira, 5 de abril de 2011

God!

Hoje fiz uma importante descoberta, agora tudo faz sentido. Deus é Americano, ou melhor, Norte-Americano.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Lembranças: marcas, saudades e esperança.





Elegia a uma pequena borboleta

"Como chegavas do casulo,
-inacabada seda viva!-
tuas antenas - fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,

como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeira,
com mais sonho e silêncio que asas,

minha mão tosca te agarrou
com uma dura, inocente culpa,
e é cinza de lua teu corpo,
meus dedos, sua sepultura.
Já desfeita e ainda palpitante,
expiras sem noção nenhuma.

Ó bordado do véu do dia,
transparente anêmona aérea!
não leves meu rosto contigo:
leva o pranto que te celebra,
no olho precário em que te acabas,
meu remorso ajoelhado leva!

Choro a tua forma violada,
miraculosa, alva, divina,
criatura de pólen, de aragem,
diáfana pétala da vida!
Choro ter pesado em teu corpo,
que no estante não pesaria.

Choro essa humana insuficiência:
- a confusão dos nossos olhos,
- o selvagem peso do gesto,
- cegueira - ignorância - remotos
instintos súbitos  - violência
que o sonho e a graça prostram mortos.

Pudesse a étereos paraísos
ascender teu leve fantasma,
e meu coração penitente
ser a rosa desabrochada
para servir-te mel e aroma,
por toda a eternidade escrava!

E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
- os espelhos que refletissem
-voo e silêncio - os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!"

(Cecília Meireles)



É com muita saudade que posto essa homenagem a avó Sebastiana, que a um ano, mesmo passando pelo processo de casúlo até virar uma grande "borboleta", vaidosa, carinhosa, cheia de felicidade e de amor  coloria a nossa vida, porém a fragilidade da vida a tirou do nosso meio. Restando-nos a saudade e uma esperança de um dia estarmos juntos novamente.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Triste felicidade

Procuro algo que me escapa. Conquisto e na alegria da conquista me entristeço. Ocupo os meus dias com teorias, isso me faz sentir bem, mais é horrível quando saio das teorias e a realidade novamente me cerca. Me falta ar, pílulas contra ansiedade entram em cena e eu novamente saio de cena. As teorias que me fazem mal? Não, eu me faço mal. Tenho todos os motivos para ser feliz mas parece que aceitá-los é uma traição. Traição? Posso ser feliz! Mas quero? Quero! Caminho um dia me encontro.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Além do "Paraíso"

"Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
   Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achando-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
  Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
   Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante."

(Clarice Lispector - Felicidade Clandestina)

   
  O excerto extraído do conto "Felicidade Clandestina" de Clarice Lispector é para mim a descrição mais estilizada do amor pelo livro. Me identifiquei bastante com o conto. Em um outro post titulado "Paraíso" faço a minha declaração apaixonada por livros.

   O objetivo deste post é convidá-lo a dividir sua leitura através de "comentários". 
   Relate a sua leitura, teça comentários, compartilhe referências...inspire-se!
  

sábado, 22 de janeiro de 2011

"Não posso ficar colado a natureza como uma estampa"

"Queria que o mundo entendesse que amar da forma como amo não é revolucionário, é algo natural, minha natureza me fez assim. Todo gay nasce gay. A vida social se opõe a essa naturalidade e ali começam os conflitos", declarou Martin em entrevista concedida à revista "Veja".

Comentários postados:

"O homossexualismo não pode ser tratado com indiferença, existe varios fatores pra ele, e ninguem nasce com isso, pois Deus nos fez perfeitos, homens e mulheres, Deus é perfeito no que faz, agora pode acontecer anormalidades fisicas como casos de hemafroditas, ou homossexualismo gerado no subconciente de um bebe dentro do ventre da mãe, pelo simples fato da mãe ou do pai desejar uma filha mulher por exemplo, sabendo que o bebe é do sexo masculino. O homossexulismo pode sugir através de traumas, revoltas e de problemas hormonais. Mas pode ser curado sim, basta a pessoa querer e procurar um tratamento adequado, tratamendo fisico, emocional, psicológico e espitual. E resta a nós compreender, e estender a mão, seja qual a escolha que a pessoa fizer... Isso se chama respeito e humildade!" (Daniela)

"é final dos tempos mesmo ,,um homem tão lindo ,acho que isto é uma doença que aflige a alma das pessoas ,,infelizmente ele é um artista e não um anonimo,,tem que conviver com os pros e contras." (Lea)



      É com tristeza que leio a afirmação feita pelo cantor Ricky Martin e os comentários postados no "yahoo Brasil".  São tão limitados, tão arcaicos e maldosos. Ninguém nasce gay, ninguém nasce mulher ou homem, bixessual, hetero, ou sei lá que rótulos se queira dar as opções sexuais. Rótulos são sempre enquadramentos, limitações, hierarquização, tentativa de empoderamento de uma sociedade heteronormativa e cruel. A opção sexual, como o próprio nome diz, é uma escolha e não pode estar preso a uma "verdade" nata. Hoje posso gostar do "azul", amanhã do "amarelo" e posso voltar a gostar do "azul", ou do colorido todo que a vida nos permite conhecer.  Não dá para naturalizar opções sexuais. O termo homoxessualismo já não se usa mais e faz tempo, já superamos o "ismo" como algo patológico para o "dade" que vem a ser qualidade. Ou seja, o termo correto é homoxessualidade e esta está longeeeeee de ser natural. Apelar para a questão religiosa é mostrar o quanto rudimentar é o argumento, se assim pode ser chamado. Vamos estudar gente!

Marco Monteiro

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Angústia

"Agonizo se tento
Retomar a origem das coisas
Sinto-me dentro delas e fujo
Salto para o meio da vida
Como uma navalha no ar
Que se espeta no chão
Não posso ficar colado
A natureza como uma estampa
E representá-la no desenho
Que dela faço
Não posso
Em mim nada está como é
Tudo é um tremendo esforço de ser"
Composição: João Ricardo/ João Apolinário
Trago neste post a letra da música que compõe o título do Blog. É uma letra forte, que procura fugir da concepção de normal, natural, dado, para uma percepção do construído, do socialmente construído. A letra é dura e nos coloca frente a construção do nosso ser. A angústia é companheira de quem procura a verdade. Não sou procuro ser.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fake

      "Se eu fosse eu", é com essa frase retirada de uma crônica de Lispector que inicio os posts de 2011. Longe de ser um existencialista, no sentido strito do termo, proponho pensar sobre as várias faces do "eu". É claro que Clarice na crônica em questão, supera toda e qualquer interpretação do "eu". Mas Clarice é mágica, toca essencialmente a alma, enquanto eu divago sobre preposições. 
      Me dei algumas horas por dia para estar com a literatura, tentando fugir do meu objeto de pesquisa, duro, quadrado, recortado e precisamente conceituado. Não que eu não goste de todo esse rigor acadêmico, muito pelo contrário, a academia me faz perceber útil. Mas é difícil desvencilhar do objeto quando vivenciamos intensamente a sua construção. Por isso quando li o conto de Lispector pensei logo em um fenômeno que foi transposto da vida real para a vida virtual. O "fake".
      O fake nada mais é que uma construção tendenciosa da nossa construção do "eu". Ou seja, é uma fuga planejada, arquitetada, de se perceber e se apresentar no mundo virtual. Assim como a fotografia é um instante registrado de uma felicidade construída, congelada, paralisada. O fake é a busca de estar em equilíbrio com a amplitude de nossos "eus". Falso, necessário, escondido, escancarado, vivo. Clarice incita o pensamento ao afirmar que metade das coisas que faríamos se fossémos eu, não poderia ser contado. Daí a necessidade de criarmos personagens para aliviarmos os vários "eus" presente num corpo limitado, com medo, repletos de culpas e anseios. O fake é fuga? É salvação? É covardia? Como nos apresentamos a nós mesmo?
      "Se eu fosse eu" o que eu faria? Gritar já não posso, ter consciência do real é doloroso... requer ação, quero agir? O carnaval já não dá conta de nossos anseios construídos, colombina e pierrô, não mais colore as possibilidades dos "eus".  Vigio e não me percebo vigiado, ou me percebo? Crio personagens, mas alguma vez protagonizo?  "A mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara", Clarice é forte demais... sufoca a alma.
     Ser eu é emancipação, é verdade, é liberdade. O preço é caro, o prazer é muito. O medo é fato, assim me engano.