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Barretos, São Paulo, Brazil
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Sociologia e graduado em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual Paulista. Professor da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos "Dr. Paulo Prata".

sexta-feira, 25 de março de 2011

Lembranças: marcas, saudades e esperança.





Elegia a uma pequena borboleta

"Como chegavas do casulo,
-inacabada seda viva!-
tuas antenas - fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,

como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeira,
com mais sonho e silêncio que asas,

minha mão tosca te agarrou
com uma dura, inocente culpa,
e é cinza de lua teu corpo,
meus dedos, sua sepultura.
Já desfeita e ainda palpitante,
expiras sem noção nenhuma.

Ó bordado do véu do dia,
transparente anêmona aérea!
não leves meu rosto contigo:
leva o pranto que te celebra,
no olho precário em que te acabas,
meu remorso ajoelhado leva!

Choro a tua forma violada,
miraculosa, alva, divina,
criatura de pólen, de aragem,
diáfana pétala da vida!
Choro ter pesado em teu corpo,
que no estante não pesaria.

Choro essa humana insuficiência:
- a confusão dos nossos olhos,
- o selvagem peso do gesto,
- cegueira - ignorância - remotos
instintos súbitos  - violência
que o sonho e a graça prostram mortos.

Pudesse a étereos paraísos
ascender teu leve fantasma,
e meu coração penitente
ser a rosa desabrochada
para servir-te mel e aroma,
por toda a eternidade escrava!

E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
- os espelhos que refletissem
-voo e silêncio - os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!"

(Cecília Meireles)



É com muita saudade que posto essa homenagem a avó Sebastiana, que a um ano, mesmo passando pelo processo de casúlo até virar uma grande "borboleta", vaidosa, carinhosa, cheia de felicidade e de amor  coloria a nossa vida, porém a fragilidade da vida a tirou do nosso meio. Restando-nos a saudade e uma esperança de um dia estarmos juntos novamente.

4 comentários:

  1. Não sei nem o que dizer sobre isso, apenas lamento esta perda, de uma jóia tão rara, tão inestimável, que não haverá outra pessoa assim...

    Te Amo Vó...

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  2. "O que a memória amou, fica eterno!" Adélia Prado
    Saudade...
    Obrigada Marco por tudo o carinho"
    Bj

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  3. "Aprendi sem dicionário que saudade não tem tradução." (Caio F. Abreu) Te amo Vó!

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