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Barretos, São Paulo, Brazil
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Sociologia e graduado em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual Paulista. Professor da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos "Dr. Paulo Prata".

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O professor e seu prestígio profissional

"Porque há o direito ao grito, então eu grito" (Clarice Lispector). 

      Faço do dia de hoje, um momento de reflexão e desabafo. Hoje se comemora o Dia dos Professores. Longe de sentimentalismos que descaracteriza o papel profissional do ser professor (professor como pai, mãe, amigo, mestre com a missão de amar...) quero tratar aqui do professor como um profissional que deve ser respeitado como tal. 
      Neste segundo semestre, por conta do ingresso no concurso público de PEB II, (Professor de Educação Básica)  foi convocado a participar de um curso on-line, "preparatório" chamado de "Escola de formação de professores do Estado de São Paulo". O primeiro módulo tratava das políticas educacionais do Estado de São Paulo, dos currículos, das avaliações, de como a Secretaria do Estado é maravilhosa, dos altos índices educacionais alcançados pela mesma (não devemos esquecer da "progressão continuada" onde os alunos não podem ser reprovados, daí o motivo de tais índices, mesmo que estes alunos sejam semianalfabetos estando cursando o ensino médio, mas isso não é problema não é mesmo?).
    Durante uma atividade proposta no módulo em questão tínhamos um exercício de múltipla escolha que tratava dos problemas existentes na escola. Uma das questões traziam como resposta correta que o "professor era inexperiente e pouco responsável". Pasmem, nós como professores tínhamos que admitir que o fracasso escolar era de nossa inteira responsabilidade. Diante disso, como celebrar o dia dos professores, como pensar o professor como profissional que escolhe a carreira como um ser professor e não um estar professor. Como uma escolha e não como uma opção ou falta de.
     O conteúdo não é mais o essencial no trabalho na sala de aula, a questão agora é com o "ensinar a ensinar", o" prender a aprender", sei lá são tantos neologismos que criaram que se valoriza muito mais a forma do que o conteúdo. O resultado disto está ai, alunos que não sabem escrever, ler e muito menos interpretar. Pensar então...ah estamos querendo demais né! As propostas pedagógicas enlatadas são impostas, metas a serem cumpridas, pois as avaliações significativas são aquelas que aumentam os índices estatísticos (IDEB, SARESP, ENEM etc) e não necessariamente aquelas que contribuem para o aprendizado emancipatório, se é que avaliação emancipa. 
    Mas as condições de trabalho para o professor são boas, salas bem estruturadas, com ventilação, carteiras confortáveis, lousa em formato 3D, poucos alunos por turma. Sem falar no apoio excepcional ao professor por parte da direção, da coordenação pedagógica, enfim da secretaria do Estado, basta ver a afirmativa acima assinalada como correta. O salário então nem cabe por em discussão, pois o "vale coxinha" já diz tudo. Mas não sejamos tão maus poderia ser um "vale bolinho de queijo" assim, pelo menos não nos sentiríamos tão angustiados de nos alimentar do sofrimento dos animais que há tempos nos ensinam.
      Bom, gritar é preciso, mas vamos fazer isso baixinho... pois como evidenciado no segundo encontro presencial (14.10.10) da escola "deformação" dos professores diante de questionamentos, uma das coordenadoras gritou... ahhh e o tom foi alto "se você não está satisfeito com o sistema educacional proposto então se retire", por esta eu não esperava, pois até questionar é perigoso. E ainda estamos sendo avaliados, pois tal curso é a terceira etapa para a efetivação no Estado. Então cuidado! Como concursista grite baixinho...
      Viva o dia dos professores! Viva a escola pública! Viva a Secretaria do Estado de São Paulo! Viva o novo currículo! Viva a progressão continuada! Viva o governo tucano!
      Viva e sobreviva professor!  

4 comentários:

  1. Uma das questões traziam como resposta correta que o "professor era inexperiente e pouco responsável".

    Marco Comédia, estou de "cara" com esse papo brabo todo. É um absurdo isso. Por isso e por mais que venho desanimando cada vez mais com a docência. Ensino fundamental e médio, nem consigo me imaginar mais lecionando. Ensino superior me instiga ainda devido a pesquisa...
    Mas essa situação toda que vc relatou...affe...em de jogar e ganhar na mega sena, seu comédia!!!! hheeheh

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  2. Pois é comédia total mesmo tudo o que estamos vivenciando na educação pública. Ah e depois o comédia total continuo sendo eu né! kkkkk, saudade.

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  3. Marco, senti isso ontem também. Questionar é algo fora de moda agora, amigo. Não é o ensino é a aprendizagem, uma aprendizagem que, diga-se de passagem, eles fingem acontecer sem que o professor tenha a mínima condição de ensinar.

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  4. É muito triste isso tudo Li...Mas vamos por nós mesmos nos valorizar. Parabéns pra nós, hehehehe, beijo.

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