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Barretos, São Paulo, Brazil
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Sociologia e graduado em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual Paulista. Professor da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos "Dr. Paulo Prata".

sábado, 7 de agosto de 2010

A trajetória da Sociologia no Brasil


Antônio Cândido, literato com formação sociológica vem corroborar com um panorama da evolução da Sociologia brasileira, em um artigo titulado de “A Sociologia no Brasil”. Tendo como objetivo claro, a recuperação da nossa formação sociológica, trazendo datas, figuras, acontecimentos, obras e comentários.
            O presente artigo analisado é de suma importância para entender um pouco mais o Brasil e suas preocupações sociológicas de diferentes épocas. De forma interessante e evolvente, Antônio Cândido nos conduz a esta viagem pelo tempo.
            A divisão temporal, em relação à presença da sociologia no Brasil, é separada por Antônio Cândido em períodos. O primeiro período é datado de 1880 a 1930, com a presença de intelectuais não especializados, interessados em interpretar de forma global a sociedade brasileira. O segundo período, bem distinto do primeiro, é apresentado após 1940 com uma sociologia consolidada como disciplina universitária, com uma produção teórica, de pesquisa e aplicação. No entanto, de 1930 a 1940, temos o período de transição entre as fases, neste momento foi instituído a sociologia como formação universitária.
Na escola Livre de Sociologia e Política e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade, ambas e São Paulo, bem como na Faculdade de Filosofia da Universidade do Distrito Federal, fundam-se em 1933, 1934 e 1935 os primeiros cursos superiores de Ciências Sociais, figurando ela entre as matéria.(CANDIDO, s/d, p. 2114)

            Assim, uma gama de estudiosos estrangeiros ou naturalizados, com seus estudos sociológicos e antropológicos, estiveram presentes na institucionalização das ciências sociais no Brasil. Dentre eles Levi-Strauus, Jacques Lambert e Roger Bastide.
            A sociologia brasileira se formou tendo como base as idéias evolucionistas, como a de fator natural (biológico), as etapas históricas, os estudos gerais, e as grandes sínteses explicativas. No entanto, cabe ressaltar que, o evolucionismo não reinou entre nós com características européias, mas passou por adaptação da nossa realidade. Mesmo assim, o Evolucionismo e o Direito fizeram parte da formação inicial da sociologia. E a sociologia “apareceu e incorporou, com efeito, a partir da preocupação de alguns juristas possuídos pelas doutrinas do Evolucionismo científico e filosófico. (Ibid., p.2107)           Assim fica claro a presença dos juristas como intérpretes da sociedade. Entretanto, como estava em voga a teórica biológica, o jurista se aproximou do medico e engenheiro, formando um tripé dominante da inteligência brasileira.
            Silvio Romero, Tobias Barreto, Fausto Cardoso, Lívio de Castro, Paulo Egídio são nomes importantes que souberam trabalhar em sua época, com algumas características sociológicas. Não perdendo de vista a assimilação da sociedade como a um organismo biológico e evolutivo.
            A superação do evolucionismo aconteceu graças ao engenheiro Euclides da Cunha, com a “fórmula bem brasileira de estudos sociais, em que a reconstrução do passado se amoldava a certos pontos de vista do presente; em que o estudo se misturava à intuição pessoal e o cientista ao retórico escritor”. (Ibid., p. 2107)  Assim Os Sertões (1902) é um marco da sociologia brasileira pois, a partir desta obra os estudos forma mais sistematizados, superando a visão estritamente jurídica e especulativa.
            Novos estudos agora merecem destaques, diante da fase em que a preocupação foi a “teoria geral do Brasil”, baseada na organização e evolução social, estando presente os aspectos políticos. A sociologia apresentava “remédios” para a ordem político-administrativa.
            Assim, Euclides da Cunha já citado, Manuel Bonfim, Alberto Torres e Oliveira Vianna foram os representantes mais notáveis desta época, com estudos que perpassavam por diversos âmbitos.
            Em A América Latina (1905), Manoel Bonfim, tem como objetivo analisar o atraso das instituições na América. Seu estudo é patológico, analisando assim, o “parasitismo social” das mães pátrias frente às colônias. Já Alberto Torres tem como preocupação primeira, a reforma constitucional e a regeneração administrativa, para assim se ter um “Poder Coordenador”. Sua outra preocupação diz respeito à questão racial e mestiçagem. Na mesma linha de pensamento de Alberto Torres, encontramos Oliveira Vianna, cuja preocupação principal é a política. Porém não deixa de tratar da questão racial qual tem como equipamento teórico o fator racial de superioridade e inferioridade, estabelecendo assim uma estratificação social conforme a cor. Em sua obra Populações Meridionais no Brasil (1919), inova em oposição à “vista sintética” de antes, como a construção de “tipos sociais”. Deste modo, Antônio Cândido diz que “é sem dúvida imponente e fecunda a sua construção, culminada pela determinação de “tipos sociais”, definidos segundo a base econômica, variando esta por sua vez conforme as condições regionais”. (Ibid., p.2113)
            Em outro momento do texto Antônio Cândido diz que “Oliveira Vianna é um fim da linha da ‘teoria geral do Brasil’, sob um ponto de vista evolutivo, Gilberto Freyre embora ligado a ela, é um começo, pela renovação dos métodos e a larga informação teórica em que se fundou”. (Ibid., p. 2113)  Assim , entra em discussão o autor de Casa Grande e Senzala (1933). Freyre, despreocupado em “fazer sociologia” é considerado um antiacadêmico, têm a sua orientação voltada mais para a antropologia. Seu interesse estava em analisar em profundidade a sociedade brasileira. Acabando por estabelecer uma correlação entre propriedade latifundiária, sistema agrícola (monocultura) e trabalho escravo. Além de delinear tipos humanos em relação às camadas sociais.
            Instituída a Sociologia os trabalhos foram desenvolvidos de forma sistemática, isto é, com maior peso teórico, empirismo e aplicação. Alguns nomes foram destacados com Fernando de Azevedo em uma de suas obras Sociologia Educacional (1940), cujo objetivo era colocar a educação como um dos campos da investigação sociológica, procurando perceber o que se tem de socialização no processo educacional. E para isso utiliza-se de Durkheim.
            Roger Bastide, outro nome relevante neste quadro da sociologia brasileira, foi rigoroso em relação da posição teórica. A sua preocupação central foram os estudos afro-brasileiros, resultando de trabalhos como A Poesia Afro-brasileira (1943), Relações raciais entre negros e brancos em são Paulo (1955), entre outras.
            Outro estudioso de grande importância para a sociologia brasileira foi Florestan Fernandes, que acreditava que “a sociologia só marchará para formas mais rigorosas de explicação se persistir na análise de situação delimitadas por meios dos processos empíricos”. (Ibid., p. 2120)  Grande teórico também foi Florentan Fernandes se preocupava em interagir com os clássicos , Marx, Durkheim e Weber, afim de levantar Apontamentos sobre os problemas da indução na sociologia (1954).
            Não há dúvida de que a Sociologia continua em pauta e produzindo muitos trabalhos até hoje. O apresentado até o momento foi uma direção pela qual a Sociologia atravessou, baseado no pensamento de uma grande figura brasileira, Antônio Cândido, idealizador do artigo analisado.
            Cabe a nós, agora institucionalizado no sentido de aprendizes de intelectual, ficarmos atentos às necessidades sociais, afim de que nos tornemos pesquisadores, críticos e percussores da sociologia contemporânea.

Referência:

CÂNDIDO, Antônio. A sociologia no Brasil. In: Enciclopédia Delta Larrousse, Ed. Delta S.A, s/d. Rio de Janeiro




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